A prevenção e a proteção da saúde mental têm vindo a ganhar um lugar de discussão à mesa e na estratégia das organizações. Impulsionadas pela evidência mundial que nos remete para uma circunstância global em que grande parte da humanidade se sente perante múltiplos desafios, além de as organizações vivenciarem dificuldades na gestão das suas múltiplas demandas e valências.

A isto podemos chamar a grande exaustão.

Os números respeitantes ao consumo de substâncias e diagnósticos do espectro da saúde mental são alarmantes, e se por um lado nos trazem uma wake-up call, por outro torna-se claro que é importante fazermos mais com esta informação.

Numa tendência crescente, as empresas têm vindo a desenvolver ações e a construir alguns pacotes de benefícios que pretendem oferecer aos seus colaboradores ferramentas para a autogestão, no entanto mais de 12 mil pessoas (Global Business Collaboration for better Workplace Mental Health) assumem que não partilhariam com o seu manager os motivos que as levariam a ter de tirar time off se estes estivessem relacionados com a sua saúde mental.

Falar sobre saúde mental não é aparentemente suficiente. Os estudos também nos indicam que apenas 22% acreditam que o estigma em volta dos temas da saúde mental diminui na sua organização.

Falar sobre saúde mental é importante, mas é tão importante quanto resolver questões relacionadas com excesso de trabalho, dar mais autonomia, flexibilidade e gerir/ controlar managers tóxicos.

Pedirmos às nossas pessoas que sejam vulneráveis requer que tenhamos as pessoas certas para as ouvirem.

Não é só sobre a informação relativa a saúde mental, há que agir sobre as circunstâncias que lhe são favoráveis.

É importante a existência de um trabalho contínuo com as lideranças, potenciando-lhes as competências de empatia, compaixão, capacidade de ter conversas difíceis, competências para construção de um espaço onde as pessoas se sintam acolhidas, assim como o tempo que essas mesmas pessoas precisam para si.

Todas as intervenções são importantes, mas transformar a cultura, melhorando os ambientes e as circunstâncias de trabalho, é não só um protetor como uma demonstração de respeito para com as nossas pessoas.

Temos de construir a casa pelas bases.

A base é uma cultura de empatia, acolhimento e segurança psicológica.

Só começando por aí, podemos ter uma cultura friendly para a saúde mental das nossas pessoas.

Artigo de opinião, publicado na revista:
HUMAN, número 150, Julho-Agosto de 2024.