Concentrar os esforços em tornar os colaboradores felizes é o mais poderoso e directo caminho para impactar positivamente a cultura organizacional. Cabe às lideranças o desafio da sua operacionalização.

Com a pandemia COVID-19, tornou-se bastante evidente que o papel dos líderes era bem mais do que a soma das suas decisões estratégicas com vista aos bons resultados do negócio. Com as mudanças forçadas no trabalho, sobretudo na forma como as equipas passaram a trabalhar em tele-trabalho, ficou nas mãos das lideranças a necessidade urgente de criarem activamente um ambiente em que os colaboradores se sentissem, num primeiro momento, seguros e, posteriormente, motivados e produtivos.

A investigação já demonstrou que uma das principais razões pelas quais os indivíduos se sentem desmotivados ou desapoiados é a falta de reconhecimento ou apreciação do seu trabalho. Reconhecimento implica que os indivíduos se sintam pessoalmente agraciados e reconhecidos pelas contribuições positivas e de acrescento de valor. Ora, esta tarefa é uma premissa válida para todos os níveis de liderança, mas acresce de importância nas lideranças com accão, responsabilidade diária e directa na gestão de equipas e na gestão individual de cada um dos elementos que a compõem.

Concentrar os esforços em tornar os nossos colaboradores felizes é o mais poderoso e mais directo caminho para impactar positivamente a cultura organizacional, para potenciar as pessoas e para potenciar as empresas.

Como é que podemos ter a certeza disso? Nos últimos tempos, a investigação sobre a felicidade corporativa e os colaboradores que trabalham em empresas felizes diz-nos que estes:

  • Ficam o dobro do tempo na empresa quando comparados com os seus colegas “infelizes”;
  • Acreditam que estão a atingir o seu potencial e que a sua empresa lhe está a permitir isso;
  • 65% do tempo que passam a trabalhar sentem-se energizados;
  • Tem 58% mais de probabilidades de ajudar um colega a resolver um problema que seja fora do seu foro de actuação ou responsabilidade;
  • 98% sentem-se identificados com os valores da organização;
  • 186% falam bem da sua empresa;
  • 85% são mais eficientes no trabalho;
  • Têm 10 vezes menos probabilidade de faltar pontual ou sistematicamente;

A felicidade tornou-se assim numa espécie de novo capital. Priorizar o bem--estar físico e emocional dos colaboradores é uma forma de as empresas materializarem esse reconhecimento.

Cabe assim às lideranças o desafio da sua operacionalização, que podem ser levadas a cabo com pequenas acções. Por exemplo, reconhecer e reforçar os esforços e dedicação dos colaboradores em momentos de maior desafio. Procurando formas criativas de manter a interacção social das equipas. Promovendo discussões sobre horas de trabalho versus horas de lazer, espaços de trabalho, horários e a utilização das tecnologias. Alguns colaboradores podem necessitar de segurança psicológica acrescida para o seu direito a desligar. Encorajar os colaboradores a manter níveis dinâmicos de actividade física, criando condições para que o possam fazer. Manter-se em contacto com os colaboradores, oferecendo apoio e assistência, validando a normalidade de dias duros e desafiantes.

Não podemos fazer um “skip a beatàs nossas necessidades humanas e fisiológicas. Criar condições para que os colaboradores possam sentir-se mais felizes e produtivos passa também por criar uma cultura de respeito e tolerância pelos ritmos e necessidades individuais de cada um, acreditando no poder do contágio positivo, porque quem me cuida” eu “estimo“.

Artigo de opinião, publicado na revista:
HUMAN RESOURCES Portugal, número 134, Fevereiro de 2022.

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