A felicidade corporativa é um investimento com retorno garantido. Empresas com colaboradores felizes podem obter um aumento de 31% na produtividade e uma subida de 37% nas vendas. Quem o assegura é Cristina Nogueira da Fonseca, fundadora do projeto Happytown, que se dedica ao happy training de indivíduos e equipas em pequenas, médias e grandes empresas. A consultora defende a criação de um local de trabalho onde os colaboradores se sintam necessários, compreendidos, valorizados. Onde sintam que podem aprender, evoluir e contribuir para o negócio.
Cada vez mais as empresas apostam em regalias para manter os seus talentos felizes. Oferecem café e fruta gratuita, massagens e manicuras, serviços médicos e ginásio. Têm ainda escritórios modernos e alternativos que promovem a mobilidade e a interação entre colegas. Empresas destas têm colaboradores mais felizes ou são apenas bons sítios para trabalhar?
Café é fantástico para quem bebe, fruta para quem gosta, o ginásio para quem se preocupa com a saúde física, a mobilidade para colaboradores que a valorizem e já a interação é fantástica para colaboradores que apreciem trabalhar em equipa. As pessoas gostam de muitas e diferentes coisas e normalmente estas regalias nem sempre servem ou são do agrado de todos os colaboradores. Trabalhar num sítio “fixe” é uma coisa, trabalhar num lugar feliz é outra. Lembro-me perfeitamente de um diretor de Recursos Humanos que me disse: “Os meus colaboradores têm tudo. Ginásio e creche no trabalho, café, manicura, ementas especiais, dias de aniversário, flexibilidade horária e mesmo assim sei que não são felizes”. Se os colaboradores não são felizes sem estas regalias, não o serão com elas, mas é claro que elas minimizam a insatisfação e são muitas das vezes o método mais óbvio e mais rápido para aumentar a moral das tropas.
O que é felicidade corporativa?É igual à felicidade em qualquer um dos campos da nossa vida, família por exemplo. Contextos felizes são os lugares em que nos sentimos necessários, compreendidos, valorizados, onde nos sentimos a aprender, a evoluir e para onde vamos com vontade de criar e de contribuir. Uma empresa feliz é uma empresa que floresce, que tem uma missão e onde os que fazem parte dela se sentem a criar e a contribuir.
Que tipo de estratégias, ferramentas, ações, uma empresa pode usar para alcançar a felicidade?
A felicidade aplicada às empresas precisa primeiro da identificação e da construção de métricas que sejam únicas e exclusivas, como aliás o são as empresas e os seus contextos de trabalho, as suas funções, os seus objetivos e as suas equipas. Essa métrica é construída respondendo de forma rigorosa a duas questões: “O que precisa a minha empresa para crescer?” e “O que procuram os meus colaboradores para florescerem?”. Depois é importante levar-se a cabo um assessment rigoroso que permita aferir se os colaboradores têm, quer individualmente quer por parte da empresa, as condições necessárias para terem sucesso, para criarem e contribuírem. Com essa métrica conseguem-se duas coisas: os gestores e líderes têm uma forma de monitorizar continuamente a satisfação e manter no positivo o capital psicológico das suas pessoas; e a criação de contextos de training únicos em que se possa na realidade acrescentar novo valor e aperfeiçoar competências nas pessoas que queremos que adicionem valor à nossa empresa.
A felicidade no local de trabalho torna-nos melhores colaboradores? Mais produtivos, por exemplo?
Sem dúvida! Aumenta-nos, por exemplo, a capacidade de nos focarmos. Martin Seligman, pai da Psicologia Positiva (corrente teórica que está na base da intervenção da minha empresa Happytown), fala do flow, que é o estado da envolvência absoluta, da criatividade potenciada, do tempo que nem se dá conta de passar. Um colaborador feliz atinge com muita frequência o estado de flow. Além disso, a Universidade de Warwick concluiu que a felicidade conduz a um aumento de 12% na produtividade dos colaboradores, tendo em casos como o da Google esse aumento ter chegado aos 37%. E se um colaborador feliz produz mais, um colaborador infeliz produz menos.
Que outro retorno podem ter as empresas em investir na felicidade dos seus colaboradores? A felicidade pode ser rentável?
A felicidade é o investimento mais seguro que as empresas podem fazer. No domínio da saúde, por exemplo, a falta de identificação com a missão, o objetivo e a função na empresa são apontados como os maiores motivos para o absentismo, as baixas médicas, que traz custos diretos para a empresa. Há ainda o estado de presenteísmo, com custos indiretos para a empresa, quando um colaborador está apenas fisicamente nas instalações da empresa, não produzindo ou acrescentando valor. Colaboradores felizes identificam-se mais com os valores, a missão e a cultura da empresa. Faltam menos, adoecem menos. Os colaboradores são a maior despesa para as pequenas e médias empresas, sobretudo quando estão doentes, quando se atrasam ou quando faltam, e a “ciência da infelicidade” diz-nos que o absentismo relaciona-se mais com questões de identificação, satisfação e burnout que com situações de doença efetiva.
Na Google existe uma iniciativa – batizada de “One Simple Thing” – que permite aos colaboradores escolher uma atividade pessoal que considerem importante e que pode ter um impacto positivo no seu bem-estar. Por exemplo, sair mais cedo duas vezes por semana para ir buscar os filhos à escola, fazer uma pausa de uma hora três vezes por semana para praticar exercício físico. Permitir um balanço entre a vida pessoal e profissional pode contribuir para a felicidade dos colaboradores no trabalho?
Pode, se isso for importante para os colaboradores e se isso for possível para os colaboradores para quem isso é importante. A “One Simple Thing” é uma iniciativa genial porque dá aos colaboradores algo fundamental para o seu bem-estar, dá-lhes autonomia e escolha. Ter o poder de ajustar uma experiência à sua medida é libertador e cria uma sensação de confiança profundamente securizante entre o colaborador e a empresa.
“Colaboradores felizes trabalham sem dúvida melhor em equipa, são mais recetivos a pontos de vista diferentes, confiam no poder do todo, pedem ajuda, impulsionam mudanças”
A felicidade corporativa passa também por promover a amizade entre colegas? Segundo um estudo da empresa de pesquisa Gallup, aqueles que têm amigos no trabalho são sete vezes mais propensos de se dedicarem ao seu emprego, são melhores a atrair clientes, produzem trabalho de maior qualidade.
Não sei se é o facto de ter amigos no local de trabalho que torna os colaboradores mais felizes ou se é o facto de sermos felizes com o que fazemos e onde o fazemos que faz com que procuremos relações de amizade dentro da empresa. O que sei é que colaboradores felizes trabalham sem dúvida melhor em equipa, são mais recetivos a pontos de vista diferentes, confiam no poder do todo, pedem ajuda, impulsionam mudanças. Se os colaboradores não se sentirem apoiados pela empresa, pela chefia e sobretudo pelos colegas, dificilmente confiarão e dificilmente se envolverão a um nível significativo.
O que nos faz infelizes no trabalho? A rotina, o ordenado. Não receber feedback, não aprender nada de novo?
Não consigo dar uma resposta estanque. Para determinados colaboradores o ordenado é apenas uma regalia porque a verdadeira felicidade está no que fazem. Outros são fãs da rotina e há os que são energeticamente devorados por ela. É importante que as empresas conheçam as suas pessoas e saibam o que as faz mexer, crescer e fazer o extra mile. Mas posso garantir que as pessoas têm mais dificuldade em serem felizes em contextos em que lhes falta relação, reconhecimento e perceção de competência e recompensa.
Os portugueses são felizes no trabalho?
A maioria não. Mas é possível melhorar o nível de felicidade aumentando a felicidade na empresa, na família e no resto da vida. A boa notícia é que as pessoas querem cada vez mais ser felizes em tudo o que fazem, mas ainda lutam contra a ideia de que não é suposto sermos felizes no trabalho. Trabalho é uma coisa dura, séria. Aliás em alguns dos quadrantes da nossa vida acreditamos que a felicidade é algo que está destinado aos que têm sorte, porque tiveram bons patrões, bons cônjuges ou filhos extraordinários. Torna-se crucial destruir o conceito de sorte. Empresas e colaboradores devem dedicar-se a criar uma relação de equilíbrio, proximidade, confiança e liberdade. Só assim o amor não acaba. Só assim teremos empresas e pessoas felizes.
DICAS PARA SER MAIS FELIZ NO TRABALHO
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